Desilusões e a Morte das Expectativas

Veridiana Avelino
3 min readFeb 27, 2021

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26/30 — Escreva sobre esses sentimentos

Arte: Donna Isham

Já dizia Paulinho da Viola em seus versos “Desilusão, desilusão, dança eu, dança você na sombra da solidão”. Quem já não passou por uma? Criança, adulto, pobre, rico, iletrado, doutor, homem, mulher… É um sentimento bem democrático, pois atinge a todos.

Eu tive algumas que foram demasiadamente dolorosas. Tanto que não me sinto bem em falar sobre elas.

Querem saber um segredo? Para lidar com minhas decepções, eu aprendi a criar mentalmente, vários compartimentos, onde armazeno os pensamentos e lembranças por valor e sentimentos. As minhas desilusões estão todas guardadas em caixas de ferro, numa prateleira que fica num quarto fechado que parece uma despensa. É uma porta que nunca tenho vontade de abrir.

As desilusões que causam fortes danos não tem como serem apagadas como um passe de mágica, mas não quer dizer que vamos passar o resto de nossas vidas pensando nelas e sofrendo com os danos. Temos que seguir em frente, sempre.

Costuma-se dizer que as desilusões deixam as pessoas fortes, mas para mim, essa premissa não é verdadeira. É totalmente o contrário. Se você não for forte o suficiente, elas lhe destroem, roubam sua paz, desestabilizam seu suporte emocional que é tão difícil construir. Por ter vivenciado na pele, tenho propriedade em falar: Desilusão não fortalece ninguém. Elas acontecem para lhe desestruturar.

É certo que as desilusões fazem parte da vida de qualquer um, podem acontecer a qualquer hora e podem se manifestar de forma simples ou avassaladora (depende da perspectiva de cada um sobre o fato).

Às vezes nós mesmos nos decepcionamos: Temos a mania de traçar planos mirabolantes e quando não cumprimos, por inúmeros fatores, acabamos decepcionados.

Desde crianças temos nossas desilusões, mas elas não deixam marcas tão profundas quanto as desilusões da vida adulta, até porque as crianças têm uma forma diferente de ver o mundo — com curiosidade e inocência.

No entanto, quando se é adulto, algo muito simples que lhe cause uma decepção pode lhe desestabilizar, por exemplo, uma espera que não chega, um plano que não dá certo, uma nota que não vem, um emprego que não acontece, uma frustação na viagem ou no amor (principalmente), as atitudes de uma pessoa em relação a você, coisas rotineiras, etc. Qualquer fato pode ser motivo de desilusões. Mais do que tudo, é preciso saber passar por elas, sem se deixar abalar, o que nem sempre é tão simples. Não há como mensurarmos os danos trazidos pelas decepções, na vida das pessoas, pela peculiaridade de cada indivíduo. Tem gente que adoece por causa delas.

Estamos num tempo no mundo muito difícil. É raro conviver com pessoas empáticas. As pessoas estão cada vez mais em suas bolhas, que pode ser uma maneira de sobrevivência. Não temos como julgar/condenar cada um que nos decepciona. O que temos que fazer é não esperar nada de ninguém, assim evitaremos tantas desilusões.

Não tem vida mais plena do que viver sem expectativas. É libertador! Faça suas coisas em seu tempo como terminar um curso, escrever um livro, casar, ter filhos, mudar de casa ou não faça nada disso. Não dependa de ninguém nem de nada para ser feliz. Vá vivendo, aproveitando os erros e acertos com a mesma calma. A vida é isso.

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Veridiana Avelino

Leitora voraz e também escritora. Gosto de viver, conhecer lugares, experimentar sabores, sentir o cheiro das coisas. Ver esse mundo que Deus criou!